Durante a Pandemia do COVID-19 (ainda em curso) fizemos uma série de entrevistas com estabelecimentos cadastrados na nossa plataforma, que buscaram a vaquinha on-line como alternativa para crise econômica que se instaurou.
A primeira entrevista foi com o Lucas, sócio do estabelecimento Paralelo 82, um estúdio de tatuagem com uma história super legal! Confira:
1.Conte um pouco sobre você e a trajetória do seu negócio 🙂
Meu nome é Lucas Pereira, tenho 27 anos e sou um dos fundadores e gestores do Paralelo 82. Me formei em Economia pela UFF e comecei estagiando e trabalhando em algumas empresas durante o período da faculdade, porém desde cedo me despertou a vontade de empreender. Aprendi que trabalhar sem um propósito além do financeiro possa ser um dos maiores erros que podemos cometer. Após alguns anos de empregos e projetos que não foram adiante, meu irmão e tatuador Bruno Pereira, me convidou para abrir um estúdio pequeno e privado para que ele pudesse se desenvolver e trabalhar também da maneira que acreditava.
Apesar das dúvidas e dos riscos, larguei um emprego infeliz, buscamos o apoio dos nossos familiares para conseguirmos alugar uma sala pequena aqui no Rio (não tínhamos os documentos necessários, então nosso tio era o locatário) e pegamos um empréstimo com nosso pai (na época desempregado) para conseguirmos iniciar tudo. E foi muito rápido. No momento que tínhamos tudo necessário para começar montamos um plano que basicamente consistia em dar início as divulgações nas redes sociais um mês antes de realmente abrirmos, para que assim, já no primeiro dia já tivéssemos clientes.
Conseguimos. Tínhamos uma sala, o Bruno (único tatuador até então) e uma agenda cheia. No início eu tomava conta de tudo que não fosse tatuar, como a administração da sala, contas, estoque, marketing e o atendimento, o que em poucos meses se tornou uma tarefa complicada. Nesse momento surge o Fábio Menezes, amigo de infância e meu vizinho, era também a carona para voltar de Niterói para o Rio durante a faculdade. Desde sempre nos apoiando, após o seu período de estágio acabar numa empresa, se ofereceu para ajudar a dividir as tarefas do estúdio.
A partir desse ponto sabíamos que existia uma diferença grande entre a maneira que trabalhamos e que outros estúdios mais tradicionais trabalhavam. Com isso, alguns tatuadores com que meu irmão chegou a trabalhar em anos anteriores se interessaram. E um estúdio privado de um único tatuador passa a ter então 4 profissionais trabalhando. Após um ano da abertura, em novembro de 2017, meu irmão decide partir para Europa em busca de aprimorar sua arte e com isso Fábio se torna sócio. Sabendo do desafio que seria continuar sem o principal tatuador e da necessidade de termos mais pessoas para administrar o estúdio, ocorre a fusão com o estúdio da Jéssica Cavalcanti e da Laisa Lui, um estúdio administrado por elas e que contava com 3 tatuadoras.
Lembra que eu falei que a sala era pequena? Então, já em dezembro daquele ano eram 7 tatuadores se revezando. Desde o início sabíamos da necessidade de expandir, e como tudo aconteceu rápido, nos mudar também deveria ser o mais rápido possível. Na primeira semana de janeiro de 2018 conseguimos alugar o segundo andar de um sobrado, uma ideia bem ambiciosa e sem o dinheiro necessário. O plano então era: os tatuadores continuariam atendendo na sala pequena com a Laisa administrando tudo por lá e eu, Fábio e Jéssica iriamos reformar a nova sede. Em março, depois de 2 meses e meio de muito aprendizado, inauguramos o Paralelo 82. Uma marca nova, um lugar novo e com um propósito novo. Nos tornamos um coletivo, uma equipe de gestão cuidava do espaço, da divulgação e do atendimento enquanto os tatuadores com essa estrutura podiam focar na própria evolução artística.
Hoje, depois de 2 anos de muita troca e aprendizado, somos 12 artistas e 5 colaboradores na gestão que entendem o significado de coletivo. Não podemos dizer que foi fácil e nem que será, porém sabemos que enquanto mantivermos nossa essência vamos superar os desafios e continuar evoluindo.
2.Como conheceu a plataforma do Abacashi? 3. Você achou fácil utilizá-la?
Assim que começaram as campanhas por causa da pandemia, uma das marcas que eu sigo lançou uma através do Abacashi. Após uma breve pesquisa na internet, além de consultar as taxas no próprio site da plataforma, decidi fazer um teste e por ser bem prático foi logo escolhido.
4.Como a plataforma irá ajudar no seu negócio?
Do ponto de vista da empresa Paralelo 82, temos funcionários que cuidam do atendimento, da limpeza e do operacional do estúdio, e que dependem de nós para se manterem. Além disso, temos dívidas e parcelas de equipamentos que foram investidos recentemente. Do ponto de vista dos artistas, que também dependem do fluxo de trabalhos no estúdio, é uma das maneiras de conseguir renda com a tatuagem mesmo sem poder realizá-las nesse momento.
5. Com os resultados até agora obtidos com este financiamento coletivo, o que você pode fazer ou que passos conseguiu tomar?
Dos quase 60 mil reais arrecadados, cerca de 40 mil reais foram distribuídos entre os artistas residentes do Paralelo 82, o restante está mantendo as despesas do coletivo desde o dia 20/03 quando decidimos suspender as atividades. Como não sabemos por quanto tempo teremos que ficar em casa até que seja seguro voltarmos a funcionar, estamos lançando um site com artes impressas e algumas camisas desenvolvidas por nós. Até lá, tentaremos realizar projetos que possam ajudar a manter os artistas e os colaboradores sem colocar em risco a saúde de ninguém.
6. O que você achou de mais legal na mobilização das pessoas para te ajudarem?
Particularmente fiquei impressionado em todos os sentidos da campanha. Desde a mobilização da equipe e de amigos para o lançamento até o número de pessoas que ajudaram e apoiaram. São muitos querendo ver o Paralelo 82 e seus artistas bem e de volta quando tudo isso passar, é gratificante demais. Num momento triste e incerto como esse, o apoio e o carinho de todos fazem todo o sacrifício valer a pena. Traz um sentimento de estarmos no caminho certo.
7. O que vocês aprenderam (e estão aprendendo) e qual a experiência que vocês tem tirado desse momento de isolamento social e pandemia?
Desde o início, quando tudo começou em 2018, foi muito aprendizado até aqui. Se pudesse resumir diria que foi uma sequência de alguns acertos e muitos erros, porém a maior lição foi a união de algumas pessoas em prol de objetivo comum. Aprender a ouvir e entender a visão de artistas e clientes foi o que guiou o estúdio, e através de feedbacks positivos e negativos conseguimos corrigir os erros e focar nos acertos.
O isolamento social veio para mostrar o quanto isso tudo estava vivo em nós. As reuniões mensais e presenciais passaram para reuniões quinzenais pela internet, e se antes a presença total da equipe era quase impossível, hoje a reunião se torna um alívio para matar a saudade, nos lembrar que não estamos sozinhos e que juntos pensamos e agimos melhor. Como um dos fundadores fico muito feliz de termos uma família em torno do Paralelo 82, e que não vai faltar apoio para superarmos este momento.
Queria agradecer antes de tudo e deixar registrado aqui todos que trabalham para isso tudo acontecer:
Equipe de Gestão: Fábio Menezes (sócio e gestor), Laisa Lui (atendimento), Jéssica Cavalcanti (atendimento), Eduardo Péres (gerente), Nil (Limpeza) e Matheus Lima (designer).
Artistas: Bea Braga, Bruno Oliveira, Bruno Pereira, Deborah Medina, Ferna Tenjou, Igor Kappler, Lis Torres, Mario Lewicki, Paperboy, Pedro Andrade, Raom, Thamara Prada, Tiago Santacruz e Viktor Varis.
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