Durante a Pandemia do COVID-19 (ainda em curso) fizemos uma série de entrevistas com estabelecimentos e Organizações cadastradas na nossa plataforma, que buscaram a vaquinha on-line como alternativa para crise econômica que se instaurou.
A entrevista de hoje foi com o Arsenal da Esperança, uma casa de acolhida para pessoas em situação de vulnerabilidade. Eles se surpreenderam com o apoio das pessoas, confira:
Conte um pouco sobre você e como nasceu a ideia da ação 🙂
Sou formado em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi e voluntário do Arsenal da Esperança desde 2007, quando cheguei em São Paulo. O Arsenal da Esperança é uma casa de acolhida para pessoas em situação de vulnerabilidade social (o chamado povo de rua) que acolhe diariamente 1.200 pessoas, e ocupa o antigo prédio da Hospedaria do Imigrante (divide o mesmo prédio do Museu da Imigração, no bairro da Mooca). As pessoas que chegam na casa, além de uma cama e noites de hospitalidade, tem à disposição durante o período que forem acolhidas, inúmeros serviços como cursos de alfabetização, cursos profissionalizantes em parcerias com o SENAI (padaria, confeitaria, ajudante de cozinha, pedreiro, marceneiro, eletricista, etc), Biblioteca, Centro Médico, sala de jogos, etc.
Eu trabalho como voluntário mais especificamente na Biblioteca e auxiliando o curso de Português para Imigrantes, pois entre os 1.200 acolhidos uma boa parte é composta de imigrantes refugiados de países como Burkina Fasso, Mali, Congo, Guiné Equatorial e Bissau, Zâmbia, Nigéria, Venezuela, entre outros, que não tem o Português como língua oficial, por isso na casa também de forma voluntária temos aulas de português para imigrantes de língua Francesa, Inglesa e Espanhola (todos os professores são voluntários).
A Biblioteca do Arsenal abre diariamente (de segunda a segunda inclusive sábados, domingos e feriados), também graças a equipe de 22 voluntários que fazem revezamento. Recebemos uma média de 120 visitas diárias e 300 empréstimos de livros por mês além de disponibilizarmos para os visitantes serviços como confecção de currículo, jornais diários e de emprego, periódicos semanais, etc.
Portanto a pessoa que se encontra em situação de rua chega na casa e durante o período que precisar, com o acompanhamento de assistentes sociais, fica morando no Arsenal até conseguir ser inserido novamente no mercado de trabalho e na sociedade.
Esta casa é administrada por uma fraternidade que tem origem Italiana (o SERMIG) e esta mesma fraternidade tem outras 3 casas parecidas como esta ao redor do mundo. Uma em Turim, que acolhe famílias vindas do Leste Europeu, uma na Jordânia, que trabalha com crianças que tenham algum tipo de deficiência (física ou mental) e outra mais no norte da Itália, um antigo castelo que hoje serve como hospital de recuperação.
Turim, por ser uma cidade bastante populosa e industrializada como São Paulo, foi bastante afetada pelo Corona vírus enquanto ainda ele não havia chegado no Brasil, por isso a fraternidade que mora no Arsenal da Esperança, aqui no Brasil, com a experiência do que estava ocorrendo na Itália, decidiu por iniciativa própria, antes mesmo das autoridades municipais e estaduais orientarem o isolamento, iniciar a quarentena para os que estavam acolhidos na casa.
Portanto desde o dia 20 de março as pessoas que estavam acolhidas no Arsenal continuam em isolamento. Muitos serviços que eram disponibilizados pela casa precisaram ser interrompidos ou transformados para que se adequassem as necessidades do isolamento. Os cursos e aulas foram suspensos mas outras atividades precisaram ser implementadas para que se tornasse viável manter essas 1.000 pessoas entretidas durante o período de isolamento. Paralelo a isso os gastos da casa com alimentação, produtos de higiene pessoal e de limpeza dispararam absurdamente. Para você ter uma ideia são servidos, neste período de quarentena, no Arsenal DIARIAMENTE mais de 3.000 refeições entre café da manhã, almoço e jantar. Todos os leitos e áreas comuns da casa precisam ser limpas com álcool duas vezes por dia e se fez necessário a distribuição de um kit de higiene pessoal por semana para cada acolhido.
Como nasceu a ideia da ação:
Nos primeiros dias da quarentena um dos diretores do Arsenal conversando comigo pediu para que tentasse mobilizar alguns amigos pessoais, familiares e até mesmo os colegas de voluntariado para arrecadar doações em dinheiro ou em produtos para a casa.
Naquela noite fui dormir bastante apreensivo porque era nítida a necessidade e a urgência deles em manter estas pessoas lá, não só para o bem delas mas pensando também no próximo e toda a cidade.
Imagine você se mil pessoas estivessem perambulando pelas ruas de São Paulo neste momento em condições precárias de higiene e sem ter o mínimo para se proteger, sem ter onde dormir, como tomar banho nem lavar as mãos (o que é muito “normal” para a gente por estarmos já acostumados , para algumas pessoas é um esforço absurdo, que nem passa pela nossa cabeça! Faça essa experiência, se imagine na rua, sem ter onde dormir, onde tomar banho, sem ter o que comer, sem ter um sabonete! E isso acontece todos os dias na nossa cidade, desde sempre, não só nesta época de pandemia, na nossa cara e passamos por estas pessoas como se elas fossem invisíveis. Tudo que para nós é “normal” para eles é muito difícil de conseguir).
Conversando com amigos voluntários do Arsenal alguns me disseram da sua dificuldade em efetuar doações para o Arsenal ou porque eram do grupo de risco e não podiam sair para ir em bancos fazer transferência e não tinham familiaridade com transações bancárias pela internet, ou porque naquele momento poderiam fazer doações de valores “pequenos” e para efetuar a transferência, tendo em vista a dificuldade de ir em alguma agência, teriam que pagar taxas de TED e DOC que são um pouco “salgadas”, ou amigos de outras cidades que queriam ajudar mas estavam longe. Pensando nisso me lembrei da plataforma Abacashi, que havia conhecido ano passado.
Assim, uma amiga e eu, com a ciência e apoio do diretor do Arsenal, desenvolvemos a ideia desta vaquinha para financiar a compra dos kits de higiene pessoal que são distribuídos semanalmente e auxiliar também na compra de alimentos, material de limpeza, álcool em gel e máscaras.
Como conheceu a plataforma do Abacashi?
Uma das atividades desenvolvidas pela Biblioteca em que sou voluntário dentro do Arsenal é um Concurso Literário anual em que os acolhidos escrevem textos que depois são lidos numa noite de sarau e premiados. No ano passado estávamos com dificuldades em conseguir recursos para esta ação e pesquisando as plataformas disponíveis verifiquei que o Abacashi era entre todas a mais intuitiva, a de mais fácil utilização tanto para quem esta administrando quanto para o doador (e isso é muito importante porque boa parte dos nossos amigos benfeitores e voluntários já são de idade e tem dificuldade com processos digitais) além de ter a menor taxa e tempo de espera. Naquela ocasião não precisamos utilizar pois conseguimos, de última hora uma parceria com o Círculo Italiano e outros amigos mas essa ideia ficou na gaveta para tantas outras ações que a casa e nosso grupo desenvolvem durante o ano até que neste momento mais difícil a plataforma se mostrou novamente a mais adequada para nossa ação.
Você achou fácil utilizá-la?
A plataforma é tão fácil de utilizar, as informações são tão claras que eu achei até que estava entendendo errado. Foi aí que me surpreendi ainda mais, pois para “confirmar” as informações que já eram bem claras e tirar algumas dúvidas durante o processo, entrei em contato pelo chat no site, depois pelo whats e por último por e-mail e para a minha surpresa (porque bom atendimento principalmente num momento de alta demanda, como deve estar sendo o de vocês no momento) fui super bem atendido em todos os meios de comunicação com a empresa. O atendimento sempre foi rápido, preciso, cortês e integrado. Fiquei realmente encantado com tudo. Neste momento tenso que todos estamos vivendo vocês foram, de coração, uma luz. (E eu não estou falando para agradar, rsrsr Desde o início sempre disse da minha grata surpresa com tudo.)
Como a plataforma irá ajudar no sucesso do projeto?
Neste momento em que o isolamento social é tão necessário a plataforma ajudou, está ajudando e continuará ajudando a reunir (de forma virtual) todos os amigos em torno da nossa causa. Não só conseguindo fundos mas divulgando nosso projeto para outras pessoas, formando uma corrente de pessoas que mesmo de longe conseguem “mudar o mundo” mesmo que com uma ação “pequena” e também colocando nossos amigos em contato com outras ações.
Para você ter noção, uma das senhoras, voluntária, que contribuiu com o nosso projeto, entrou em contato comigo na semana passada para pedir auxilio para doar para outra causa que encontrou no site (a cozinha de combate). Ela comentou que não conhecia o site e que a partir da nossa ação entrou para ver os outros projetos e já auxiliou mais 3. Eu mesmo também fiquei encantado com tantos outros que vi e doei ou indiquei para amigos que conheço, que são ligados à causa e que neste momento podem auxiliar.
Com os resultados até agora obtidos com este financiamento coletivo, o que você pode fazer ou que passos conseguiu tomar?
A plataforma tornou possível e real, superando as expectativas, a concretização da nossa primeira meta: conseguir o valor para os primeiros kits de higiene distribuídos semanalmente. E a partir daí, nos sentimos motivados a aumentar a meta para conseguir continuar auxiliando na manutenção da quarentena que agora, mais do que nunca, se faz necessária tendo em vista a explosão de casos de COVID-19 na nossa cidade.
Outro ponto bastante importante que é preciso salientar é que estamos entrando no período de baixa temperatura. Todos os anos vemos nos noticiários as mortes de pessoas em situação de rua por conta do frio na nossa cidade. Já estamos em meado de maio e o frio tende a aumentar cada vez mais. Nossa causa agora é conseguir manter a acolhida para estas pessoas que estariam na rua de uma forma digna para que eles se protejam e por consequência ajudem também toda a população da nossa cidade a se proteger.
O que você achou de mais legal na mobilização das pessoas para contribuírem?
Algumas coisas me tocaram , primeiramente que esta ação não ajudou ou esta ajudando só os acolhidos que receberam e receberão os kits e todo material proveniente da vaquinha, mas todos nós que estamos ajudando, pois está sendo uma forma de nos mantermos conectados, conversando por telefone, whats, redes sociais. Entrando em contato com amigos e conhecidos tanto para divulgar quanto para auxiliar no uso da plataforma. Além disso, como disse numa resposta anterior algumas pessoas já conversaram comigo sobre que a partir do contato que tiveram com a plataforma conheceram outros projetos tão importantes e especiais como o nosso e que precisam também de ajuda.
O que vocês aprenderam (e estão aprendendo) e qual a experiência que vocês tem tirado desse momento de isolamento social e pandemia?
Volto a dizer: neste momento de isolamento, a plataforma serviu para que nos sentíssemos unidos e atuantes.
O Abacashi nos mostrou que o isolamento é físico, mas não social.
Nós estamos isolados fisicamente, mas estamos unidos socialmente mesmo que distantes. Estamos atuantes na transformação da realidade em algo melhor.
Foi magnífico quando começamos a ver que aquela meta que inicialmente achávamos que seria super difícil de conseguir por conta das condições foi batida e outras pessoas mesmo que longe, mesmo que desconhecidas tiveram contato com a nossa causa, acreditaram e colaboraram.
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